April 2005  | This Issue

Só pra crianças

Andréa Carvalho
entrevista a
atriz, dramaturga, diretora
KAREN ACIOLY
(In English & Português)

Focus

K
aren Acioly é brasileira, atriz, dramaturga e diretora de teatro. Uma artista  criadora que também dirige o Teatro do Jockey, o Centro de Referência do Teatro Infantil, no Rio de Janeiro, subsidiado pela prefeitura.

Há 20 anos, ela tem se dedicado a criar peças para crianças. É um bom tempo nessa estrada, que começou em 1984, antes da imagem positiva que esse gênero de teatro alcançou nos dias de hoje.

Em seu trabalho, Karen demonstra ter um profundo interesse por temas da cultura brasileira e por personagens históricos. Os compositores Braguinha (Siinfonieta Braguinha), Noel Rosa (Garoto Noel) e Vila Lobos (Tuhu, o menino Vila Lobos), Santos Dumont (Os meus balões), a bossa nova (A Bossinha Nova) e o Zé Pereira (Viva o Zé Pereira), só para citar alguns.

Karen Acioly tem sido reconhecida pela crítica e pelas crianças desde sua primeira peça De repente no recreio, vencedora do prêmio Mambembe, um dos mais importantes no teatro brasileiro. Karen também escreve para TV e é atriz de cinema e televisão, mas diz: "Eu rezo pelo dia em que possa somente escrever e dirigir".

Karen é mãe de dois filhos: uma menina e um adolescente. No mês de comemoração pelo Dia Internacional da Mulher e pelo Dia Internacional do Teatro Infantil, 20 de março, conversei com Karen Acioly, a mulher e a artista. Saiba mais sobre ela, sua história, suas idéias, sua extrema fé na Arte. E também sobre sua criação mais recente: o  Banco de Textos Nacionais e Internacionais Pedro Dominguez.

Como o teatro infantil chegou em sua vida?

Aos sete anos. No colégio Bennett que tinha um lindo teatro, com mais de 300 figurinos. Lá, com Lúcia Coelho, Magda Modesto, aprendi a amar e inventar coisas sob o palco. De lá, comecei a dar aulas para crianças no Núcleo de Arte da Urca (Nau). Eu mesma era ainda uma adolescente quando comecei a alfabetizar através da arte. Meus alunos e eu temos uma relação 'umbilical" até hoje. Depois, fui fazendo partes de grupos, sendo dirigida por pessoas como Naum Alves de Souza, Tizuka Yamazaki, Hamilton Vaz Pereira, entre outros amores; até criar os meus próprios textos e dirigi-los.

Quais foram as suas mais recentes produções para criança?  

"Bagunça, a ópera baby",  e "Sinfonieta Braguinha". Também dirigi o "Samba pras crianças", um projeto do Zé Renato , "A ópera do Menino Maluquinho" (ainda não veio para o Rio) e o grupo "Bombando", de música vocal a cappella.

Quais as produções que você julga mais representativas para a sua carreira?

O conjunto da obra. Existem 23 já encenadas e posso dizer que amo cada uma delas de forma apaixonada. Escolher entre elas é muito difícil, ainda não tenho distanciamento.

A maternidade influenciou em seu trabalho? Você passou a ver a criança de modo diferente?

Costumo dizer que existe o A.C. e o D.C. (Antes do Ciro e Depois do Ciro). Eu era bem nova quando o Ciro nasceu e isso mudou completamente a forma de enxergar e sentir  o mundo, por isso, mudou também o teatro que faço. Quando Dora nasceu, 12 anos depois, tudo mudou de novo em nossa vida e no meu trabalho. Continuo completamente íntima da infância e essa  relação é fundamental quando escrevemos e dirigimos para crianças.

Como você distingue o público jovem do público infantil? Você julga seu trabalho mais para um do que para outro? Pergunto isto porque têm espetáculos seus que têm um certo equilíbrio entre essas platéias.

Os trabalhos são para todos. Evidentemente quando se faz um espetáculo voltado para o público de bebês, por exemplo, sabe-se que as percepções sensoriais devem ser muitíssimo estimuladas. Mas o espetáculo deve contemplar, antes da faixa etária, a sensibilidade que se pretende chegar. Todos os públicos são distintos, mas têm em comum a emoção, o apuro estético e a sensibilidade. Se o que buscamos envolve estes tipos de critérios, encontramos o nosso público.

Você faz teatro para crianças muito antes de alguns movimentos de artistas para a  promoção e organização das produções. Eu gostaria de saber, como era produzir, escrever e dirigir uma peça para crianças há 20 anos? O que mudou, em termos de produção, durante esse tempo?  

A inocência. Não existe mais romantismo em criar e realizar um espetáculo, como nos tempos de outrora. Hoje o artista que não se burocratiza ou "tecnocratiza", fica a deriva. Antes desses movimentos, existiram outros, muito importantes que priorizavam mais a criação artística do que a entrada para a captação em leis de incentivo. Isso praticamente não existe mais. Até os antigos movimentos (Motim, por exemplo) eram menos corporativistase mais amplos.

A criança de 20 anos atrás mudou em relação a criança de hoje? Como você percebe isso?  

Tudo mudou, mas não a perplexidade da criança em relação ao mundo. Isso é para sempre, enquanto houver criança, enquanto houver mundo...

O que é o Banco de Textos Pedro Dominguez?  

A idéia do Banco de Textos surgiu para difundir e circular o que já foi escrito para as crianças, construindo a memória histórica, além de incentivar novos autores a produzirem para este público. A proposta do "Banco de Textos Nacionais e internacionais" para crianças, é servir de consulta para profissionais, professores, pais, entre outros interessados em trabalhos nesta área. A sala do banco de textos e do acervo digital ficará no segundo andar do teatro do Jockey, ao lado da Sala-de-leitura espontânea e será batizada com o nome de "Pedro Dominguez", uma das mais importantes personalidades da criação do teatro infantil que faleceu no ano passado. Até o momento, já recebemos 240 textos. Pelo visto, receberemos ainda muito mais, o que será maravilhoso!

Autores, estrangeiros ou brasileiros, podem enviar seus textos?  

Todos são bem-vindos. Os textos de outra nacionalidade devem vir com suas línguas originais. Caso haja interesse, por exemplo, de um produtor encená-lo, a tradução deverá ser acompanhada e aprovada pelo autor de língua estrangeira.

 O  Banco de Textos tem algum patrocínio?  

Estamos tentando captar, para podermos digitalizar, criar um site, receber imagens, enfim, criar nossa memória histórica. Estamos num primeiro passo.

 Como algum pesquisador pode consultar a biblioteca?

O Banco de textos Pedro Dominguez servirá ao público da seguinte forma: o pesquisador selecionará o autor desejado e terá acesso ao seu texto. Caso sinta desejo de um aprofundamento maior com o autor. O Centro de Referência do Teatro Infantil, os colocará em contato. Um produtor por exemplo, que se interesse por encenar algum texto do Banco, terá o contato do autor, para uma possível autorização e negociação. O Centro de Referência do Teatro Infantil  fará o link.

Há quanto tempo você está no Teatro do Jockey?  

Estamos no Teatro há dois anos. Desde que o Teatro do Jockey abrigou o Centro de Referência do Teatro Infantil aumentamos o público em 378%, com mais de 185 espetáculos diferentes, de alta qualidade, em diversos horários. Num teatro modesto de 125 lugares. É uma linda vitória!

 Quais seus futuros projetos para o Teatro do Jockey?  

São inúmeros. Só vou citar um para não aborrecer o leitor: III Intercâmbio de Linguagens para crianças (o nome é bom porque diz tudo). Fora os planos, temos de consolidar isso tudo que estamos fazendo. Já é coisa à beça!

 KAREN ACIOLY WEB SITE: www.karenacioly.com.br

TEATRO DO JOCKEY Centro de Referência do Teatro Infantil
Tel: (21) 2540-9853
E mail:
tjockey@rio.rj.gov.br

©2005 Andréa Carvalho
©2005 Publication Scene4 Magazine

Andréa Carvalho é produtora, dramaturga e
escritora no Rio de Janeiro.
 Além de ser multi-língüe, é "mãezinha"
de duas adoráveis crianças

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